As velejadoras Sara Carmo e Matilde Pinheiro de Melo encontram-se, neste momento, na Dinamarca, onde decorre o Campeonato da Europa até ao próximo dia 4 de Julho.

A dupla foi qualificada para representar Portugal no Campeonato Mundial de Classes Olímpicas de Vela que está marcado para Outubro, em Israel, e que é uma das mais importantes provas de qualificação para os Jogos Olímpicos de 2016. “A Delta Lloyd Regatta foi um importante momento de avaliação do trabalho que temos desenvolvido nos últimos meses, visto que a estrutura dos nossos treinos mudou. Queremos analisar a nossa evolução ao longo do tempo”, afirma a dupla de velejadoras acerca da qualificação obtida naquela prova, que decorreu no passado mês de Maio, na Holanda.

Para além dos treinos de mar cinco vezes por semana, nos dias úteis, Sara e Matilde treinam em ginásio três vezes por semana. “O nosso objetivo primordial é qualificarmo-nos para os Jogos Olímpicos 2016 e ter o privilégio de representar Portugal neste evento único, pelo que todas as provas são cruciais para alcançarmos os resultados pretendidos”.

Biografia Sara Carmo

Sara Carmo (Leme) nasceu a 12 de Outubro de 1986 em Cascais. Terminou em 2013 o mestrado Integrado em Arquitetura na Universidade Técnica de Lisboa e é atualmente Arquiteta Project Manager. Nos tempos livres joga futebol com um grupo de amigas. Pertence ao Clube Naval de Cascais.

Percurso desportivo:

• Iniciou-se na prática desportiva em 1993

• Conta sete títulos de campeã nacional: três na classe Europe e quatro na classe Laser Radial

• Ocupou o 8º e 10º lugares no Europeu de juniores da classe Europe

• Foi representante de Portugal nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012 na modalidade singular feminina

• Foi Embaixadora do ano internacional da juventude, Embaixadora da Ética do Desporto e Embaixadora do projeto Vela Solidária

Biografia Matilde Pinheiro de Melo

Matilde Pinheiro de Melo (Proa) nasceu a 11 de Dezembro de 1994 em Faro e está atualmente a tirar uma licenciatura em Design Gráfico na Faculdade de Belas Artes. Nos tempos livres, desenha telas para a marca que está a lançar, a TYL.

Percurso desportivo:

• Iniciou a sua prática desportiva em 2003

• É velejadora na classe Optimist, Laser 4.7 e de Match Racing

• Foi campeã nacional na classe IRA em 2011

• No mesmo ano, foi campeã nacional na classe 4.7

• Foi distinguida como Embaixadora do projeto Vela Solidária

Entrevista:

– De que forma a vela surgiu na vida de cada uma?

A vela surgiu por influência familiar.

A família da Matilde tem muita tradição na vela, tendo duas gerações já representado Portugal nos Jogos Olímpicos. Os primeiros passos da Matilde na vela foram com o seu tio quando era treinador num clube do Algarve. A família da Sara não tem tradição na vela, apesar de também serem pessoas muito ligadas ao mar. A Sara começou por influência do seu pai, que escolheu a vela como o desporto da família para os fins-de-semana.

– Desde quando se conhecem e como aconteceu a formação da dupla?

Velejávamos as duas num barco que é o Laser (barco singular). Cruzávamo-nos nas regatas nacionais até que a Matilde veio estudar para Lisboa e a Sara decidiu mudar para um barco duplo a seguir aos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Foi em 2013 que formaram a dupla e decidiram juntar-se com o objetivo de representar Portugal nos Jogos Olímpicos do Rio em 2016.

– Têm oito anos de diferença. De que forma tiram partido na prática dessa diferença, em termos de idade e de experiência desportiva?

Tentamos tirar vantagem, não só da diferença de idades, como das características físicas e de personalidade. Tentamos direcionar cada tarefa de acordo com as aptidões de cada uma. Ouvimo-nos sempre e tentamos mostrar o nosso ponto de vista, para chegarmos ao melhor resultado.

– Qual a vossa ligação, não à modalidade, mas ao mar? Que relação têm com ele?

O mar é a nossa liberdade. É tamanha a sensação de bem-estar quando velejamos que é o refúgio para qualquer mal-estar que possamos ter.

A Sara costuma dizer que “Nada como passar-nos uma onda por cima para relativizar qualquer coisa menos boa”.

– Que qualidades ou características são imprescindíveis numa velejadora para ser uma potencial campeã?

São necessárias características como o ser-se destemida, persistente, inteligente, humilde e ter uma vontade enorme de aprender. Estas são fundamentais para o sucesso, mas infelizmente tudo isso não chega, também se depende das oportunidades e dos apoios que se tem.

– Como lidam com os momentos de fraqueza ou frustração, durante uma competição?

Erguemos a cabeça e pensamos que amanhã há mais e há a oportunidade de se corrigir o erro. Vemos o nosso projeto como um processo evolutivo, em que cada dia queremos falhar menos e tornarmo-nos melhor.

– Atualmente, quais são os maiores objetivos da dupla?

O maior objetivo em termos competitivos é o apuramento para os Jogos Olímpicos, que está já à porta. Vai ser já no Campeonato do Mundo deste ano, em Outubro, que disputaremos uma das oportunidades de qualificação.

– Até onde vai a vossa ambição, na vela?

A Sara já tem uma participação nuns Jogos Olímpicos e a Matilde vai para a sua estreia. Pela diferença de idades a ideia é a Sara passar a sua experiência à Matilde para que ela participe em muitas mais campanhas olímpicas e prossiga com as suas ambições na vela.

Enquanto a Sara tenciona aplicar a sua aprendizagem noutras áreas e quem sabe abraçar outros projetos de vela, não Olímpicos, mas em barcos maiores.

– Foram ambas Embaixadoras do projeto Vela Solidária. Falem-nos um pouco sobre o vosso papel neste projeto…

Gostamos de abraçar boas causas. De partilhar a nossa experiência e de dar a conhecer o nosso desporto. O projeto Vela Solidária surge para dar a oportunidade a pessoas carenciadas, que não têm a possibilidade de praticar a modalidade, de andarem à vela e partilharem as sensações que a experiência lhes dá.

É muito gratificante ver sorrisos surgirem.

– A Sara é arquiteta, a Matilde estuda Design Gráfico. De que forma as artes se encaixam na vela?

As artes são uma área que desenvolve a parte sensitiva e cognitiva. Fatores que também são importantes na altura de andar à vela e que influenciam a maneira como sentimos o vento, as ondas e posicionamos o nosso barco em relação aos nossos adversários.

A originalidade que se desenvolve nas artes também é crucial para se ser criativo na hora de contornar obstáculos. Porque geralmente nenhum caminho é direito.

– É possível conciliar o estudo ou a profissão com os treinos quase diários, as famílias, os amigos, namorados e outras obrigações?

Não é muito fácil conciliar-se todas as obrigações ou vontades num dia. Vai-se gerindo o dia conforme as prioridades. Mas certamente não há tempo para tudo. Até porque o desporto também exige tempo de descanso para se conseguir uma boa performance.

– De que forma estabelecem as prioridades nas vossas vidas e de que sentem mais falta?

As prioridades vão surgindo conforme a época do ano, a importância de se alcançar determinados patamares, conforme a nossa idade e momento em que nos encontramos.

A Matilde tem como prioridade a vela, a família e o curso, que tem de acabar, e sente por vezes falta de tempo para os amigos.

A Sara tem como prioridade a vela, a empresa onde trabalha e a família. Mesmo assim sente ainda falta de tempo para tirar férias.

– Que mensagem deixariam às raparigas que querem iniciar-se na vela ou às que estão a começar?

A vela é um desporto saudável, que desenvolve em nós características de super mulheres, quase à prova de bala!!

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